terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Dúvidas apócrifas de Marianne Moore - João Cabral de Melo Neto


Sempre evitei falar de mim,
falar-me. Quis falar de coisas.
Mas na seleção dessas coisas
não haverá um falar de mim?

Não haverá nesse pudor
de falar-me uma confissão,
uma indireta confissão,
pelo avesso,
e sempre impudor?

A coisa de que se falar
Até onde está pura ou impura?
Ou sempre se impõe, mesmo
Impuramente, a quem dela quer falar?

Como saber, se há tanta coisa
de que falar ou não falar?
E se o evitá-la, o não falar,
é forma de falar da coisa?

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