domingo, 6 de abril de 2014

UM POEMA DE ESTÊVÃO RODRIGUES DE CASTRO


Em mim me busco a mim e não me alcanço
Fujo de mim e a mim me vou seguindo,
À fortuna um desejo resistindo
Que caminha soberbo e torna manso.

E, se caso ao que quero os olhos lanço,
Que o lanço é desigual estou sentindo,
Que quem nasceu para morrer pedindo
Até que morra pede (em vão) descanso.

Desejo a liberdade e sou cativo,
Os pés pesados de sentir os ferros
Que, quando se não veem, são mais pesados.

Mas diz razão (se com alguma vivo)
Que há tantos males para tantos erros,
Mores castigos para mais pecados.

Antologia de poesia portuguesa (séc. XVI)

Um comentário:

Teté M. Jorge disse...

Gostei da cadência deste poema!
Beijos.