terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Amanhecer: poema de Joaquim Cardozo



A luz nasce no Oriente, os pássaros despertam ...
Amanhancer! Amanhecer!
As cinzas da noite já se afastam
Promovem e decantam o amanhecer.
Noturna treva ainda fica nos recantos
Mas, pouco a pouco, vai esmaecendo;
Se ouve o primeiro canto da manhã

Amanhecer! Amanhecer!
Agora se libertam os horizontes
E cada vez mais se chegam e se aproximam
Da noite escura que vai fugindo
Que se flutuando e vai se perdendo;
A noite - que depois voltará.

A noite se dissolve nas marcas do papel
Desenhada e claras ...
Ou cavalga como manchas brancas
Para fugir mais depressa,
Ou se retarda nas trevas
Que ainda se vão arrastando longamente
Amanhecer! Amanhecer!

Muito em breve termina o amanhecer
Embora, nessa página ainda continue .

Amanhecer! Amanhecer!
É grito agudo de quem espera
Chegar ao fim da noite.


Do livro O Interior da matéria.




Terminada a digitação do poema de Joaquim Cardozo para o blog, apenas tive uma grande satisfação em poder digitá-lo. É como se eu o sentisse meu. Mas esta sensação é ter, por um um momento, o poema de Joaquim ao lado e bem próximo - rente a mim. É um amanhecer como o poema amanhece, amanhecer junto ao poeta pernambucano que ao meu lado anuncia uma luz que nasce no Oriente.


E desta maneira vou ouvindo o canto de Joaquim, que canta o nascimento do amanhecer numa descrição tão simples e rara que se tem a presença de um eterno amanhecer em papel.


Mas e a brevidade desse instante? Como ele ser eterno? Mas afirmo por aquilo que o poema se faz uma eternidade própria do Amanhecer. Ele tem a força do amanhecer. É o amanhecer. Reli-o várias vezes. Em todas as vezes este instante surgiu como um poema que inicia sempre, ou ainda, como um poema que amanhece sempre.


Há uma força grande e simples. E o que move o poema está na forma e na vida dele mesmo.


Digitar um poema se tornou  amanhecer.


(Jefferson Bessa)

4 comentários:

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

joaquim cardozo! joaquim cardoso!
amanhecer, joaquim cardozo
venha de onde estiveres
antes que termine esta noite
noturna treva onde ficamos
sem os teus versos solares

Jefferson Bessa disse...

Amigo, que beleza de comentário! Só alegria e amanhecer.

Hilton disse...

jefferson, é lamentável o esquecimento que paira sobre a grande poesia de Joaquim Cardozo. Como você conseguiu o livro? Uma raridade.

Jefferson Bessa disse...

Lamentável mesmo, Hilton! Mas as Obras Completas (Nova Aguilar) foi lançado há pouco. O que foi uma alegria! Talvez ano passado, não lembro bem.
A organização foi feita pelo Everardo Norões.
Um abraço. Jefferson.