domingo, 26 de fevereiro de 2012

LEGENDA:: UM POEMA DE MÁRIO FAUSTINO


No princípio
Houve treva bastante para o espírito
Mover-se livremente à flor do sol
Oculto em pleno dia.
No princípio
Houve silêncio até para escutar-se
O germinar atroz de uma desgraça
Maquinada no horror do meio-dia.
E havia, no princípio,
Tão vegetal quietude, tão severa
Que se estendia a queda de uma lágrima
Das frondes dos heróis de cada dia.


Havia então mais sombra em nossa via.
Menos fragor na farsa da agonia,
Mais êxtase no mito da alegria.


Agora o bandoleiro brada e atira
Jorros de luz na fuga de meu dia —
e mudo sou para contar-te, amigo,
O reino, a lenda, a glória desse dia.
(De O Homem e sua hora)

2 comentários:

Luiz Filho de Oliveira disse...

Suas postagens neste blog estão cada vez mais refinadas, Jefferson. A sequência Quintana, Brecht, Dickinson e Faustino apontam para esse gosto seu pela poesia de talento excelente. Mário Faustino, H. Dobal, Da Costa e Silva e Torquato Neto são os poetas mais conhecidos fora daqui, do Piauí. São os nossos abre-alas para o desfilar da literatura feita aqui, para que nós, seus "herdeiros", tenhamos de trabalhar forte para dar continuidade a essa produção literária de qualidade. "O Homem e sua Hora" é, de fato, um livro que deve ser lido por todo poeta que almeje uma "carreira" de respeito.

Jefferson Bessa disse...

Agradeço as suas visitas, Luiz! É sempre uma honra poder publicar em meu blog os poetas do Piauí. Mário Faustino nos deixou muito cedo, mas nos deixou belos poemas. Seja sempre bem-vindo!