domingo, 5 de junho de 2016

À ESPERA DOS BÁRBAROS: POEMA DE KONSTANTINOS KAVÁFIS





O que esperamos na ágora reunidos?

           É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?

            É que os bárbaros chegam hoje.
            Que leis hão de fazer os senadores?
            Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

            É que os bárbaros chegam hoje.
            O nosso imperador conta saudar
            o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
            um pergaminho no qual estão escritos
            muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?

          É que os bárbaros chegam hoje,
          tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

           É que os bárbaros chegam hoje
           e aborrecem arengas, eloqüências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

           Porque é já noite, os bárbaros não vêm
           e gente recém-chegada das fronteiras
           diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.

tradução José Paulo Paes

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