terça-feira, 2 de outubro de 2012

AO ESPELHO: POEMA DE JORGE LUIS BORGES



Por que persistes, incessante espelho?
Por que repetes, misterioso irmão,
O menor movimento de minha mão?
Por que na sombra o súbito reflexo?
És o outro eu sobre o qual fala o grego
E desde sempre espreitas. Na brunidura
Da água incerta ou do cristal que dura
Me buscas e é inútil estar cego.
O fato de não te ver e saber-te
Te agrega horror, coisa de magia que ousas
Multiplicar a cifra dessas coisas
Que somos e que abarcam nossa sorte.
Quando eu estiver morto, copiarás outro
e depois outro, e outro, e outro, e outro...

Do livro "O ouro dos tigres" (1972)

2 comentários:

Marcantonio disse...

Maravilhoso poema.

"Na brunidura
Da água incerta ou do cristal que dura
Me busca e é inútil estar cego."

Que belo isso.

Abraço.

Teté M. Jorge disse...

Que lembrança boa Jorge Luis Borges...

Beijo carinhoso, poeta.