quinta-feira, 16 de agosto de 2012

EU SOU TREZENTOS...: UM POEMA DE MÁRIO DE ANDRADE



Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta, 
As sensações renascem de si mesmas sem repouso, 
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras! 
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Abraço no meu leito as melhores palavras, 
E os suspiros que dou são violinos alheios; 
Eu piso a terra como quem descobre a furto 
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios [beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta, 
Mas um dia afinal eu toparei comigo... 
Tenhamos paciência, andorinhas curtas, 
Só o esquecimento é que condensa, 
E então minha alma servirá de abrigo.


Data do poema: (7-VI-1929). Do livro Remate de Males.

4 comentários:

Teté M. Jorge disse...

Este do Mário eu não conhecia... vir aqui é certeza de enriquecimento.

Beijo carinhoso, poeta.

Graziela C. Drago K. Zeligara disse...

obrigada pelo post!

Unknown disse...

Eu sou trezento pode ser o confisao do poeta sobre a sua propria diversidade o poema sugere mais alguma leitura

Louco da Letra disse...

Este poema responde a um fragmento da carta de Pero Vaz de Caminha. Na carta, Caminha diz: são 400 ou 450 índios na beira da praia. Mário responde: eu sou 300. Sou 350.