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domingo, 22 de janeiro de 2012

UM TRECHO DE MAURICE BLANCHOT


" O que mais ameaça a leitura: a realidade do leitor, sua personalidade, sua imodéstia, a obstinação em manter-se em face do que lê, em querer ser um homem que sabe ler em geral. (...) A leitura do poema é o próprio poema, que se afirma obra na leitura."

Do livro O espaço literário

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

UM TRECHO DE PAUL VALÉRY



"O poeta desperta no homem através de um acontecimento inesperado, um incidente externo ou interno: uma árvore, um rosto, um "motivo", uma emoção, uma palavra. E às vezes é uma vontade de expressão que começa a partida, uma necessidade de traduzir o que se sente; mas às vezes é, ao contrário, um elemento de forma, um esboço de expressão que procura sua causa, que procura um sentido no espaço da minha alma...Observem bem esta dualidade possível de entrada em jogo: às vezes, alguma coisa quer se exprimir, às vezes, algum meio de expressão quer alguma coisa para servir."

Do ensaio "Poesia e pensamento abstrato"

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Uma passagem de Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa






"Ah, tem uma repetição, que sempre outras vezes em minha vida acontece. Eu atravesso as coisas - e no meio da travessia não vejo! - só estava era entretido nas idéias dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?"

Trecho de "Grande Sertão: Veredas". p.26

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Um trecho de Visões do Paraíso de Sergio Buarque de Holanda


"Com a sua ressalva de que, erigindo em escalão para piedosas empresas, como a da recuperação dos lugares santos em Jerusalém, ou para se alcançarem os verdadeiros bens do espírito, esse mesmo ouro, tão infamado pelos homens doutos e prudentes, se faria desejável e era até "excelentíssimo", justificava-se o móvel principal que levava às Índias numerosos aventureiros de todas as nações. Incapazes de atinar com o alcance das delicadezas, muitos irão dar um passo além, só lhes faltando, em verdade, canonizar a própria ganância (grifo meu). Ganância, não apenas de riquezas como ainda de honrarias, aparatos e glórias do mundo, que passam a constituir a meta constante do conquistador castelhano. E assim, até a ventura eterna vem a ter, muitas, para ele, a cor da própria cobiça, com o que se recobre o paraíso, em sua imaginação, de todas as galanterias terrenas".

Do livro Visões do Paraíso de Sergio Buarque de Holanda

sábado, 29 de maio de 2010

Merleau-Ponty: um trecho de O Olho e o Espírito



A visão do pintor não é mais um olhar sobre um exterior, relação "físico-óptica" (Paul Klee) somente com o mundo. O mundo não está mais diante dele por representação: antes, o pintor é que nasce nas coisas como por concentração e vinda a si do visível; e o quadro, finalmente, não se refere ao que quer que seja entre as coisas empíricas senão sob a condição de ser primeiramente "autofigurativo"; ele não é espetáculo de alguma coisa a não ser sendo "espetáculo de nada" (Ch. P. Bru), rebentando a "pele das coisas" (Henri Michaux) para mostrar como as coisas se fazem coisas e o mundo se faz mundo.

Do livro O Olho e o Espírito.


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A morte, a vida: um fragmento de Novalis (fragmentos II - 1768)

A morte é o princípio da vida. A morte é, a vida é. A vida é revigorada pela morte. (Novalis)

Este fragmento acima é assinado por Novalis. A morte e a vida são - diz o poeta alemão. Mas ambas são de maneira que se relacionam. A morte está para a vida assim como esta está para aquela. Certamente a vida e morte não estão como oposição, ou seja, a morte como negação - como a privação da vida.
A morte - que poderia ser o fim - é o princípio da vida. Por outro lado, a vida - que poderia ser débil pelo seu fim breve e fatal - é revigorada pela morte, uma vez que esta traz o vigor do sentido da vida.
Por isso, nesse contexto do fragmento de Novalis, a vida é. A morte é. No entanto, são como um espelho voltado um para o outro. Porque simplesmente a vida é a morte e a morte é a vida. Elas são a partir do momento em que olham uma para outra e, dessa maneira, se conjugam entre si mesmas. Aponta assim para um caminho diverso da ideia de VIDA e de MORTE. (Jefferson Bessa)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A escrita contínua de Clarice Lispector em Água Viva



O que te escrevo não tem começo: é uma continuação. Das palavras deste canto, canto que é meu e teu, evola-se um halo que transcende as frases, você sente? minha experiência vem de que eu já consegui pintar o halo das coisas. O halo é mais importante que as coisas e as palavras. O halo é vertiginoso. Finco a palavra no vazio descampado: é uma palavra como fino bloco monolítico que projeta sombra. E é trombeta que anuncia. O halo é o it.

Do livro Água Viva.


É um trecho do livro Água Viva. O livro do início (que não tem) ao fim (que não tem) é essa continuidade da escrita.
Mas o livro não começa, não há fim?
Não, não há nem começo nem fim.
Assim, Clarice "continua" a última frase (que não será a última) do livro com uma frase que dará continuidade eterna ao livro: "O que te escrevo é um "isto". Não vai parar: continua. (...) O que te escrevo continua e estou enfeitiçada".
Estar "enfeitiçada" é deixar a corrente da vida ser esse fluxo interminável da escrita. O que transcende as frases é sentir a continuidade desse movimento circular e luminoso de um "isto" que não para nunca - o halo das coisas. É uma correnteza viva que não se denomina, mas que flui em instantes vertiginosos pela linha circular que envolve a escrita indecifrável. O halo que se capta é o "it": algo que se eleva da escritura - algo que exala da palavra - o que não se conhece por inteiro. É "isto" que está sobre, que transcende, que está ao redor das coisas. Mas não é o pensamento do sobrevoo da ciência que, segundo Merleau-Ponty, pretende alcançar o objeto de maneira geral, de modo que, como algo prévio, se descubra todos os lados do objeto. Diferentemente, esse halo de Clarice está acima como o que não se pode conhecer por completo, porque o mais valioso está suspenso - ao redor das coisas. Junto ao '"isto" está a continuação perene da escrita que não esclarece ao que se refere. A pintura doa tal experiência - ela diz. A escrita exala sua luminosidade, pois tem ao seu redor esse halo, esse isto - pronome demonstrativo que somente nos indica, nos aponta, mas não nos diz por completo o que a coisa é. (Jefferson Bessa)