quinta-feira, 8 de agosto de 2013

CINISMOS: UM POEMA DE CESÁRIO VERDE



Eu hei de lhe falar lugubremente 
Do meu amor enorme e massacrado, 
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente. 

Hei de expor-lhe o meu peito descarnado, 
Chamar-lhe minha cruz e meu Calvário, 
E ser menos que um Judas empalhado. 

Hei de abrir-lhe o meu íntimo sacrário 
E desvendar a vida, o mundo, o gozo, 
Como um velho filósofo lendário. 

Hei de mostrar, tão triste e tenebroso, 
Os pegos abismais da minha vida, 
E hei de olhá-la dum modo tão nervoso, 

Que ela há de, enfim, sentir-se constrangida, 
Cheia de dor, tremente, alucinada, 
E há de chorar, chorar enternecida! 

E eu hei de, então, soltar uma risada. 

de O livro de Cesário Verde

2 comentários:

Teté M. Jorge disse...

Não me lembro de ter lido esse poeta! Obrigada por compartilhar seus versos.
Beijos.

Luiz Filho de Oliveira disse...

Cesário é um poeta do c... Só pra rimar.