quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
A orquestra invisível de Joaquim Cardozo
Num liso papel assim tão próximo
Com a mão percorro a escuridão.
Vou tateando levemente os seus contrastes
Vou descobrindo formas e objetos,
Ou medindo os elementos escondidos
Na ordem sem sentido e tenebrosa.
A escuridão se quebra em teclas negras
Que se encadeiam, que se dispersam. . .
Surgem teclados de instrumentos raros
Cujo som perfeito não se sabe bem.
É um som apenas? É um canto claro?
De uma sinfonia ou de uma sonata?
Noturno de Chopin em sol maior?
Do outro lado há tímbales, tambores,
O branco aparece puro e consagrado,
Na sua alvura imaculada;
Há longos fagotes, há clarinetes,
Há flautas e oboés: escondidos
No escuro cantam violinos, violoncelos;
E a luz branca brilha eternamente
Nessa orquestra invisível e nihilsonora.
O som, o cântico, a música da esquecida orquestra
Estão no fim, estão no branco-luz constante
[e claro.
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