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para voltar ao princípio do mundo - poema de Maria Azenha
sei de uma mulher
que penteava os cabelos ao sol
porque tinha no pensamento uma flor
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sei que os lavava ao luar
porque tinha no coração uma corola
para voltar ao princípio do mundo
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com a boca mordia o ar
e prendia os vestidos ao vento
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era uma mulher sentada numa pedra
coroada por um lírio salgado na fronte
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um dia
cortou os cabelos
atirando-os um a um ao mar
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e disse: tece-me
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e o mar inclinou-se para dentro
para tecer
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o poema
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Para surgir um poema é necessário se despir de ações que embaçam o modo mais simples de tecer um poema-vida. Despir-se de tais ações é cortar os cabelos, pois estes por si mesmos não tecem o poema. Os fios de cabelo fazem esquecer do que propriamente um poema se faz, do que uma vida se faz. Para esse pensamento que se esquece na flor; para esse pensamento que volta o seu coração para uma corola; para esse pensamento que morde o vento, aprisionando-se a um vestido que se recusa a sentir o vento, preciso é levantar-se e cortar o excedente dessas ações.
Para surgir um poema é necessário se despir de ações que embaçam o modo mais simples de tecer um poema-vida. Despir-se de tais ações é cortar os cabelos, pois estes por si mesmos não tecem o poema. Os fios de cabelo fazem esquecer do que propriamente um poema se faz, do que uma vida se faz. Para esse pensamento que se esquece na flor; para esse pensamento que volta o seu coração para uma corola; para esse pensamento que morde o vento, aprisionando-se a um vestido que se recusa a sentir o vento, preciso é levantar-se e cortar o excedente dessas ações.
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Libertando-se do cabelo é que o feminino encontra a fertilidade do que pode gerar o poema: o mar. Entregar ao mar esses fios é deixar o poema tecer, dizendo ao oceano: “tece-me”. Confiar no mar a atitude de ser com ele o poema revela a mulher que se liberta dos fios que a prendiam para doar ao mundo os fios que se juntam ao mar. União que a tecerá como verdadeira mulher, porque essa é a ação mais simples “para voltar ao princípio do mundo”. (Jefferson Bessa)
3 comentários:
Belo poema!
E do poema como o vento liberta-se a dança na alma... gostei muitíssimo do seu texto dessa trança de palavras feitas de mel.
Abraço, Amigo.
obrigada pelas suas leituras.
Agradeço as palavras lindas e acolhedoras! O poema de Maria por ser tão lindo desperta muitas imagens e sensações.
Um abraço nas duas!
Jefferson.
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