Na poltrona da sala
as mãos sob a nuca
sinto nos dedos
a dureza do osso da cabeça
a seda dos cabelos
que são meus
A morte é uma certeza invencível
mas o tato me dá
a consciente realidade
de minha presença no mundo
Do livro Muitas Vozes
Após decidir postar esse poema de Ferreira Gullar no blog, encontrei esta fotografia do poeta na Internet. Não sei quem a registrou, não encontrei os créditos. Mas não pude deixar de ver a presença do poema nesta fotografia. Nela - assim como no poema - está a presença do tato em con(tato). Na leveza de sentir as mãos passarem o corpo, a consciência da realidade afirma a presença. Como um pintor sente a tinta sobre mão e assim sente a presença dele no mundo e vice-versa. A experiência táctil pode confirmar a "certeza invencível da morte" na ausência do corpo. No entanto, para além da morte, o tato nos dá a experiência imediata e plena "de minha presença no mundo", como a fotografia acima na qual o poeta (é minha leitura) não esconde o rosto, mas sente a si mesmo (enquanto presença) no tato que desliza sobre o rosto. (Jefferson Bessa)
Um comentário:
[nunca é demais agradecer uma partilha...]
um imenso abraço, Jefferson
Leonardo B.
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