quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ferreira Gullar: o poema Tato




Na poltrona da sala
as mãos sob a nuca
    sinto nos dedos
    a dureza do osso da cabeça
    a seda dos cabelos
    que são meus

A morte é uma certeza invencível


    mas o tato me dá
    a consciente realidade
    de minha presença no mundo

Do livro Muitas Vozes



Após decidir postar esse poema de Ferreira Gullar no blog, encontrei esta fotografia do poeta na Internet. Não sei quem a registrou, não encontrei os créditos. Mas não pude deixar de ver a presença do poema nesta fotografia. Nela - assim como no poema - está a presença do tato em con(tato). Na leveza de sentir as mãos passarem o corpo, a consciência da realidade afirma a presença. Como um pintor sente a tinta sobre mão e assim sente a presença dele no mundo e vice-versa. A experiência táctil pode confirmar a "certeza invencível da morte" na ausência do corpo. No entanto, para além da morte, o tato nos dá a experiência imediata e plena "de minha presença no mundo", como a fotografia acima na qual o poeta (é minha leitura) não esconde o rosto, mas sente a si mesmo (enquanto presença) no tato que desliza sobre o rosto. (Jefferson Bessa)

Um comentário:

João A. Quadrado disse...

[nunca é demais agradecer uma partilha...]

um imenso abraço, Jefferson

Leonardo B.