SAIR
Largar o cobertor, a cama, o
medo, o terço, o quarto, largar
toda simbologia e religião; largar o
espírito, largar a alma, abrir a
porta principal e sair. Esta é
a única vida e contém inimaginável
beleza e dor. Já o sol,
as cores da terra e o
ar azul – o céu do dia –
mergulharam até a próxima aurora; a
noite está radiante e Deus não
existe nem faz falta. Tudo é
gratuito: as luzes cinéticas das avenidas,
o vulto ao vento das palmeiras
e a ânsia insaciável do jasmim;
e, sobre todas as coisas, o
e, sobre todas as coisas, o
eterno silêncio dos espaços infinitos que
nada dizem, nada querem dizer e
nada jamais precisaram ou precisarão esclarecer.
De A cidade e os livros.
Largar e largar. Largar tudo: os conceitos, os espaços, os valores que podem nos acobertar, nos esconder do mundo. Deixar, então, para trás todo o peso da alma, do espírito. Mas para isso se tem à frente uma porta. A porta: matéria pela qual nos abrimos ou fechamos – abrir a porta e sair tem o gesto de deixar o mundo nos trazer o que nele há de gratuito. Sair pela porta é viver calmamente tanto a dor quanto a beleza de tudo o que nos rodeia.
Mas a chave que se usa para abrir tal porta não revelará nenhum segredo que poderíamos pensar ter lá fora, porque além da porta existe o mistério da gratuidade do mundo. Por isso nada será esclarecido quando pela porta sair. Não é como a porta do céu divino que se abrirá para conhecermos Deus e toda a Sua criação. O Divino aqui, nesse sentido, “não existe nem faz falta”.
Em meio à noite, podemos olhar – “sobre todas as coisas” existem coisas que não dizem nada, porque no seu silêncio eterno elas não se explicam. Olha o poeta sabendo simplesmente que a luz voltará na próxima aurora e que tudo vive o silêncio do mistério que não se explica. Esta é a porta já aberta do poema que larga os interiores para largar o exterior no que este é. (Jefferson Bessa)
Largar e largar. Largar tudo: os conceitos, os espaços, os valores que podem nos acobertar, nos esconder do mundo. Deixar, então, para trás todo o peso da alma, do espírito. Mas para isso se tem à frente uma porta. A porta: matéria pela qual nos abrimos ou fechamos – abrir a porta e sair tem o gesto de deixar o mundo nos trazer o que nele há de gratuito. Sair pela porta é viver calmamente tanto a dor quanto a beleza de tudo o que nos rodeia.
Mas a chave que se usa para abrir tal porta não revelará nenhum segredo que poderíamos pensar ter lá fora, porque além da porta existe o mistério da gratuidade do mundo. Por isso nada será esclarecido quando pela porta sair. Não é como a porta do céu divino que se abrirá para conhecermos Deus e toda a Sua criação. O Divino aqui, nesse sentido, “não existe nem faz falta”.
Em meio à noite, podemos olhar – “sobre todas as coisas” existem coisas que não dizem nada, porque no seu silêncio eterno elas não se explicam. Olha o poeta sabendo simplesmente que a luz voltará na próxima aurora e que tudo vive o silêncio do mistério que não se explica. Esta é a porta já aberta do poema que larga os interiores para largar o exterior no que este é. (Jefferson Bessa)
2 comentários:
Bessa,
Ótima escolha! E comentário também!
Abraço forte!
Adriano Nunes.
Adriano Nunes, valeu pela leitura!
Um abraço.
Jefferson
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