Pouso a minha mão
na tua espádua;
e a noite se muda
em alvorada.
No mar passam navios
vagabundos:
haverei de levar-te
ao fim do mundo.
Um pássaro canta
seu canto de pássaro.
É dia ou é noite?
Jamais saberemos.
Luz e sombra unidas
na eterna aliança.
LEMBRANÇA DE UMA TEMPESTADE
Era um boteco imundo perto da Central.
Refugiei-me nele quando a tempestade
caiu sobre a cidade, entupindo os esgotos
e mudando a avenida em sujo lençol d´água.
Entre putas escrotas e burros-sem-rabo
eu escutava a chuva cair nos telhados.
Minha infância voltava, e era a velha música
imbecil de um piano sempre avariado.
O presente e o passado se uniam nas bátegas.
Os bueiros cantavam a canção urbana
da água escura impedida de escorrer nos cantos.
Pedi um sanduíche e um copo de cachaça.
Depois foi o céu claro e veio a nuvem branca.
E a luz do sol voltou a imperar na cidade.
Os dois poemas se encontram no livro Curral de Peixe.
2 comentários:
Em um o amor são águas serenas, no outro há tempestade.
O amor, como os ventos , muda de repente a direção.
Em tons diferentes, igualmente belos.
abraços
Lêdo Ivo, um gigante vivo!
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