A obra de Joaquim Cardozo, poeta recifense (1897-1978), encontra-se gratuitamente na internet (o link está ao lado na sessão VISITAS deste blog). O poema A orquestra invisível, postado anteriormente neste blog, está contido no livro O interior da matéria – editado em 1975. Tal poema possui a força de quebrar a escuridão até abrir o poema ou o gesto de escrever a uma claridade justa que pertence ao próprio poema.
É desse contraste que Joaquim Cardozo surge como um poeta que faz de sua criação um caminho para fazer nascer ao que se propõe – uma orquestra. Mas isso é possível, porque um poema tem sua verdade, ele nos faz ver o invisível e o inaudível. Eu vejo, nós vemos. Digo que seria uma orquestra visível-invisível / audível-inaudível. Esse é um poema que tem a força de construir a sua orquestra, mostrando a verdade de criação dada ao poeta, que é capaz de retirar o véu do que em um momento pode estar encoberto – o momento da escrita.
Entre os sons e as cores, entre a orquestra e os contrastes de visibilidade e de luz, não há nenhum conflito. Ao contrário, tudo o que está entre a claridade e a escuridão no poema é o trabalho do poeta-maestro que conduz o que está invisível por fazer raiar em claridade o que surge como obra. E assim ele percorre a folha que da escuridão se ilumina em uma grande orquestra. Assim os instrumentos surgem no papel agrupados, dispostos ou dispersos: é a dinâmica, o crescimento gradual do poema para que tudo o que ali surge acabe na luz e o poeta diz: “Estão no fim, estão no branco-luz constante e claro”. O poema então se realiza em luz de “alvura imaculada”. O poeta é aquele que descobre o escondido para manter escondido em claridade. Joaquim Cardozo é o poeta que vai “tateando levemente os seus contrastes” e vai “descobrindo formas e objetos”.
Jefferson Bessa
Um comentário:
Jefferson!
Li o que pude aqui. Adorei sua análise. É exato o sentido de maestro organizando pássaros, cantos, cores e tendo o mundo e a nós como palco e platéia!
Fascinante!
Obrigada!
Abraços
Mirze
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